Demoscene: Excelência técnica e arte digital

Demoscene: Excelência técnica e arte digital

Combinando deslumbrantes espetáculos visuais com trilhas sonoras sofisticadas e efeitos sonoros surpreendentes, as produções que constituem a “demoscene” –designação universal dada à categoria de softwares criados especificamente para demonstrar a apurada excelência técnica de programadores, compositores e artistas gráficos—vêm fascinando gerações de entusiastas e curiosos em geral desde o início da década de 80.

Empregando sofisticadas rotinas de programação, que procuram transportar idéias quase sempre inovadoras para o universo digital, e por levar ao limite a capacidade de processamento gráfico dos computadores ao gerar complexos cenários em tempo real, essas obras são constantemente referenciadas como um meio de expressão artística moderna, proporcionando uma experiência audiovisual única que mescla a aplicação de alta tecnologia com ousadia, usando o próprio computador como meio.

Divulgados a partir de sites especializados ou através dos eventos anuais promovidos para premiar os melhores trabalhos em categorias como games, efeitos visuais, animações e trilhas sonoras, entre outros, a forma mais indicada de conhecer de perto esse fascinante universo é transferindo gratuitamente as mais interessantes produções que conquistaram as primeiras colocações nas últimas competições. E o que não faltam são boas surpresas.

Na edição 2007 do prestigiado evento Breakpoint, realizado na primeira quinzena de abril e que levou mais de 1000 participantes de 30 países para participar da festa na Alemanha, o primeiro destaque veio da categoria games, principal responsável pelo crescente interesse do público para acompanhar essas competições. Geralmente partindo de idéias simples, mas sem dispensar elementos importantes como criatividade e excelência técnica, Sumotori Dreams já surpreende pelo menu principal, composto por um cenário totalmente destrutível pelos cubos lançados pelo jogador. Implementando uma eficiente simulação física apurada e cenários em terceira dimensão, o jogo é um hilário simulador de sumô protagonizada por uma dupla de robôs com uma grave deficiência de equilíbrio.

Podendo jogar com um amigo, compartilhando o mesmo teclado, ou contra o computador, que apresenta uma razoável inteligência artificial, o mais surpreendente de tudo é o seu tamanho: apenas 87Kbytes, algo notável quando levado em consideração todas as suas capacidades. Destaque para a genial modalidade oculta, que transforma um dos robôs em uma espécie de alvo móvel e que demonstra o avançado sistema de animação empregado pelo game, resultando em uma realística movimentação do robô quando ele tenta se reerguer. Esse modo pode ser acessado na tela de abertura, ao lançar um cubo entre as duas últimas estacas.

Ganhador do segundo lugar, TMN Puppets, com apenas 92Kb, é um protótipo de jogo de luta que procura inovar ao permitir que apenas o posicionamento da cabeça dos lutadores –feitos a partir de bonecos de palitos de fósforo— coordene todos os seus movimentos.

E para a terceira colocação, Kakiarts 8-Ball, com 89Kb, é um jogo de sinuca ambientado em um cenário totalmente 3D.

Naturalmente, os jogos não são a única atração aguardada pelos entusiastas do gênero. As intros, que são as famosas apresentações que geram, em tempo real, ilustrações em 2D, modelagem de complexos objetos 3D, efeitos visuais alucinantes e outras curiosas características, são igualmente apreciadas.

E, para essa edição, a produção que mais se sobressaiu foi a FR-041: Debris, do veterano grupo Farbraush. Com meros 180Kb de tamanho, feito notável devido à qualidade dos seus gráficos e da sua trilha sonora, a obra exibe as modificações ocorridas em uma cidade fictícia após a invasão de milhares de pequenos objetos que modificam a sua topografia e acabam resultando na sua total desconstrução. Os inspirados posicionamentos da câmera, que transportam com fluidez o observador para o interior de trens e dinâmicos passeios aéreos, são imperdíveis.

Ainda mais impressionante são as intros limitadas a 4096 bytes , como é o caso do Sprite-o-Mat, vencedor desse ano na categoria. Codificada em assembler extremamente otimizado, a apresentação exibe um belo espetáculo repleto de círculos que formam animados e coloridos objetos no espaço em 3D. Só para colocar em perspectiva quão diminuto é o seu tamanho, o texto dessa coluna ocupa mais bytes que toda a intro.

E quando não há limites quanto ao tamanho resultante da obra, a criatividade corre solta. Selecionado como o ganhador geral da 5a. edição da votação promovida pelo site Scene, Track One, produzido pela Fairlight, merece menção pelo conjunto da obra. Fazendo uso pleno de recursos visuais para simular as falhas presentes nos filmes antigos, ao mesmo tempo em que abusa do afastamento de objetos para revelar outros, mescladas com a construção progressiva das complexas estruturas tridimensionais de uma residência, a produção é de tirar o fôlego.

Essa lista, no entanto, representa apenas uma pequena amostra dos mais recentes lançamentos surgidos na cena. Há mais de 30 mil produções catalogadas e disponíveis gratuitamente em sites como Pouet e Scene, que são paradas obrigatórias para quem deseja mergulhar nesse fascinante universo e conferir como talentosos e abnegados programadores conseguem espremer todas os recursos dos computadores para criar belos espetáculos audiovisuais.

Para os saudosos da era 8-bit

As produções não estão limitadas ao universo dos PCs. Antigos sistemas, como Commodore 64, Amiga, MSX, TK90X, e até calculadoras e celulares, também também são contemplados pelas demos.

Demos para vídeo-games como o Xbox 360, PSP, Gameboy Advance e Playstation também podem ser encontrados. Para acessar a lista completa, visite esse endereço.