Lost: Via Domus -- um game fora de série

Lost: Via Domus -- um game fora de série

Adaptar para o universo dos games uma trama complexa como a retratada pela cultuada série Lost está longe de ser uma tarefa simples. Para não correr o risco de desvirtuar a proposta inicial da obra, principalmente quando a mesma é acompanhada por uma legião de ardorosos fãs conhecedores de todos os detalhes da história e dos dramas dos seus personagens, para criar um título que seja envolvente e que traga algo de novo sem deixar de lado a coerência é necessário bem mais do que uma extensa e minuciosa pesquisa: é preciso também introduzir novos elementos para dar ao jogador a oportunidade de conhecer aspectos raramente vistos nos episódios, contribuindo positivamente na evolução da trama original.

Com o lançamento de Lost: Via Domus, título ansiosamente aguardado desde que a Ubisoft divulgou a produção de um game inspirado na série, é possível perceber que, em nenhum momento, esse aspecto de trazer algo novo foi negligenciado. Levando o jogador a presenciar de perto o drama vivido pelos passageiros do fatídico vôo 815, que, ao explodir inexplicavelmente quando sobrevoava o sul do Pacífico, levou os sobreviventes a buscar abrigo em uma sinistra ilha repleta de mistérios, o game consegue prender a atenção pela forma insólita em que os acontecimentos são apresentados. Ao invés de controlar um dos protagonistas, tendo que se ater à mesma trajetória definida pelo enredo original, o jogador assumirá as funções de Elliott, passageiro do mesmo vôo e que, após o desastre, está sofrendo de uma amnésia aguda.

Usando como base os acontecimentos das duas primeiras temporadas, a trama tem como ponto de partida uma eletrizante seqüência de introdução que demonstra, na perspectiva do jogador, como foi a explosão e os angustiantes momentos que se sucederam na tentativa de chegar a salvo na ilha. Desde o início, Elliott não terá a mínima trégua. Empenhado em consertar o vazamento de combustível de um dos destroços, ele será confundido com um terrorista e acusado como um dos responsáveis pelo acidente. Para piorar ainda mais, há um personagem que constantemente o persegue, exigindo, à força, que sejam cedidas as fotos armazenadas na sua máquina fotográfica. Situações nada fáceis de superar, principalmente porque Elliott é incapaz de relembrar o seu passado e tampouco os detalhes que o levaram a chegar até ali.

Contudo, isso não significa que o jogador ficará perdido durante o desenrolar da história. Empregando o recurso de flashbacks, será possível conhecer, em doses homeopáticas, detalhes da vida de Elliott, dos demais personagens e encontrar as prováveis relações entre eles. Nesse quesito, o que mais se destaca é que, ao invés de assistir passivamente às seqüências, o jogador poderá assumir o controle das ações reproduzidas, tornando a experiência bem mais rica e recompensadora.

A mecânica utilizada para ativar os flashbacks é igualmente curiosa. Logo no início, marcando a primeira ocorrência dessas visões, durante a execução da cena em que Elliott avista a algemada Kate no interior da aeronave, tirar uma foto em que as algemas estejam em foco destravará a seqüência com a primeira pista sobre o sinistro personagem que o persegue. Esse é o segredo para ativar essas lembranças nos momentos subseqüentes: sempre identificar o item-chave da cena, focalizando-o e registrando-o com a sua máquina fotográfica.

Para a decepção da maioria dos seguidores mais afoitos em busca de respostas para alguns dos principais enigmas, o jogo não chega a revelar nenhum detalhe realmente importante da série. Todos os enigmas que devem ser resolvidos estão concentrados apenas nos problemas de Elliott. Porém, como o enredo do game foi escrito em parceria com os criadores da série e seus roteiristas, é possível explorar ambientes que foram citados brevemente nos episódios e conhecer mais detalhadamente as áreas poucos exploradas. Incluídas entre as possibilidades mais relevantes, estão a capacidade de explorar salas ocultas, usar a rede de computadores da ilha, interagir com os temidos membros da ilha batizados como “Os Outros” e explorar as dependências do instituto DHARMA.

Outra boa surpresa é que as semelhanças com a série de TV não estão restritas apenas à história e os seus personagens. A estrutura utilizada para separar os estágios também relembra a divisão em episódios, com resumos destacando os eventos da etapa anterior antecedendo as novas missões. Ao todo, são oferecidos sete “episódios”, cada um com um tempo médio de 90 minutos para ser concluído.

Em relação aos gráficos, a recriação da ilha não deixa nada a desejar. Graças ao uso do mecanismo YETI, o mesmo utilizado em games populares da Ubisoft como Ghost Recon: Advanced Warfighter 2 e Beowulf, os cenários apresentam um satisfatório grau de realismo e beleza. Os protagonistas, modelados para relembrar os seus respectivos atores, também não decepcionam, e são facilmente identificáveis.

As vozes, por outro lado, podem irritar os fãs que acompanham a série em sua versão original. Apenas seis atores emprestaram a sua voz para os seus personagens (Ben, Desmond, Mikhail, Mr. Friendly, Sun e Claire). Os demais foram dublados por narradores profissionais. A música incidental, porém, é impecável e se encaixa perfeitamente no clima proposto pelos estágios.

Apesar de Lost: Via Domus ser direcionado para os seguidores da série que gostariam de explorar o universo de Lost usando da uma perspectiva própria, jogadores menos habituados com a trama também poderão se divertir ao participar de uma emocionante jornada que envolve exploração, resolução de quebra-cabeças e muita ação na tentativa de encontrar meios de sobreviver em uma ilha repleta de mistérios e desvendar os enigmas que envolvem o passado do seu personagem.

Devido aos cenários amplos e ricamente detalhados, para rodar satisfatoriamente o game será preciso uma configuração parruda. Além de uma placa de vídeo compatível com o Shader Model 3 (NVIDIA 6600 GT, ATI X1300 ou superior e com 256MB), também é pedido um processador de 2 Ghz, 1GB de memória RAM e 5GB de espaço livre no HD.

Compatível com o PC, Xbox 360 e Playstation 3, mais detalhes sobre o título podem ser conferidos no site oficial.