Portal: Um genial quebra-cabeças de ação
Quando os primeiros rumores começaram a surgir sobre as novidades que seriam apresentadas em Half-Life 2: Episode Two, um pequeno detalhe aumentou ainda mais a curiosidade dos fãs ansiosos pelo seu lançamento: a notícia sobre a adição do game-bônus Portal, um inovador quebra-cabeças de ação que prometia revolucionar o gênero tiro-em-primeira-pessoa ao introduzir o empolgante recurso da criação de portais dimensionais.
Usando como base o mesmo conceito originalmente introduzido pelo gratuito Narbacular Drop, genial projeto criado em 2005 por uma equipe de estudantes do DigiPen Institute e que rendeu ao grupo um merecido convite para ingressar na Valve Corporation para desenvolver uma adaptação inspirada no universo do consagrado Half-Life, desde o início, Portal demonstrava um ousado interesse de incorporar oportunas inovações ao estilo e implementar novas idéias.
Entre as mais relevantes, se destacavam a capacidade de se movimentar de maneira não-linear pelos cenários e a possibilidade de resolver enigmas envolvendo diversas salas ao mesmo tempo, algo até então impossível ou extremamente limitado sem o uso dos portais dimensionais. O resultado, que finalmente pode ser conferido com o seu lançamento oficial, não apenas superou todas as espectativas, como o coloca na lista de um dos prováveis melhores jogos de ação do ano. Sem exagero.
Assim como os demais títulos que fazem parte da franquia HL, Portal investe em um enredo intrincado e carregado de suspense. Tendo como ponto de partida um solitário e bem monitorado cubículo localizado no coração da organização “Aperture Science”, o jogador, assumindo o papel da desmemoriada protagonista Chell, precisa servir de cobaia para testar um novo e perigoso dispositivo intitulado “Handheld Portal Device”. Qual a finalidade desse dispositivo? Criar portais dimensionais em praticamente qualquer superfície plana que não seja de vidro, esteja coberto por água ou seja revestido por um material isolante.
Nesse ponto da aventura, é possível que quem ainda não esteja habituado com o conceito dos portais fique um pouco confuso quanto à mecânica empregada pelo jogo. E embora as primeiras missões tentem explicar na prática esse conceito, ele não é difícil de compreender: através desse dispositivo, que se parece com uma arma e permite ativar os portais até uma certa distância, é possível especificar uma ligação entre dois pontos distintos de um cenário ao especificar uma porta de “entrada” (criada com o botão esquerdo do mouse), e uma de “saída” (usando o botão direito).
Digamos, por exemplo, que em uma determinada missão seja preciso ir até a outra extremidade de uma sala, mas há um poço localizado no seu interior que o impede de caminhar até lá. Uma das soluções para esse caso poderia envolver a criação um portal de entrada em uma parede próxima, e um de saída na extremidade desejada. Ao atravessar o primeiro portal, a personagem será transferida imediatamente ao ponto especificado como o de saída, como se houvesse uma porta entre os dois pontos.
Mas os desafios propostos pelo jogo exigem muito mais do que simples ações de criar portais. As missões, que apresentam um gradativo grau de dificuldade, estão divididas basicamente em duas categorias. A primeira envolve encontrar maneiras criativas para atravessar os labirintos tridimensionais e descobrir a melhor forma de manipular os objetos que servem para destravar portas e dispositivos como plataformas flutuantes e escadas móveis. Nessa etapa, o uso de raciocínio lógico e um bom senso de direção são fundamentais, principalmente nas missões mais avançadas em que os obstáculos são muito bem bolados e raramente envolvem soluções simples.
A segunda categoria se concentra no cumprimento de tarefas específicas, cujas instruções ou estão impressas em grandes cartazes afixados nas paredes, ou são divulgadas via voz pelo computador central. Dentre os principais afazeres, estão o de modificar a trajetória de bolas de fogo até os seus respectivos receptores e despistar –ou abater—os robôs e outras ameaças de igual desafio.
O melhor de tudo é que as missões vão bem além dos exames. Durante o desenrolar da aventura, a personagem começará a desconfiar das condições do teste e as prometidas –mas nunca cumpridas—recompensas, ocasionando em uma reviravolta que pode produzir resultados desastrosos. Nesse ponto, as habilidades adquiridas nas missões anteriores nunca foram tão importantes para manter a sobrevivência da heroína e encontrar uma maneira de escapar.
Devido às particularidades inerentes à criação deliberada de portais, um dos grandes destaques do jogo é a sua implementação apurada das leis da física. Levando em consideração elementos como a inércia e a força da gravidade exercida entre os portais, é possível criar desde soluções criativas para alcançar pontos praticamente impossíveis pelas vias normais, até se divertir com alguns curiosos paradoxos. Criando os dois portais em pontos afastados do chão e saltando sobre um deles, por exemplo, ocasionará em um loop constante que envolve entrar e sair da mesma sala usando apenas a força da gravidade. Ideal nas ocasiões em que é preciso atacar um inimigo, que ficará desorientado por não saber em quem atirar. Outra característica interessante e que pode ser aplicada em algumas situações envolve a replicação da sua imagem por infinitas vezes, criando os dois portais entre a personagem. Dezenas de outras particularidades envolvendo as característica do ambiente podem ser exploradas, e descobrí-las poderá colocá-lo em extrema vantagem.
Apesar do jogo ser relativamente curto, após concluir a campanha principal serão destravadas duas modalidades que extendem a vida útil do título. Em Challenge serão impostos limites de tempo ou a quantidade de portais que podem ser criados. Bem mais interessante é o Advanced, em que todos os desafios foram consideravelmente ajustados para a dificuldade máxima, adicionando novos obstáculos e armadilhas. Recomendado somente para os mestres.
Uma das gratas surpresas do ano, Portal soube adaptar os cenários dos jogos de tiro em um empolgante e desafiador quebra-cabeças repleto de ação. Podendo ser adquirido juntamente com o pacotão Orange Box, ao custo sugerido de R$99 e que também inclui o Half-Life 2, HL: Episode One, HL: Episode Two e Team Fortress 2, ou isoladamente no site Steam (US$19.85), para rodá-lo será preciso possuir um computador equipado com processador de 1.7GHz ou superior, 512MB de RAM, placa de vídeo compatível com o DirectX 8 e Windows XP/Vista.