Resolvendo enigmas desenhando mecanismos engenhosos
Quando o vídeo demonstrando o uso prático do Microsoft Physics Illustrator começou a ganhar notoriedade no YouTube, em meados de setembro de 2006, o interesse gerado em torno do revolucionário aplicativo que permitia simular a interação física de objetos desenhados livremente em uma lousa virtual não se restringiu apenas ao meio acadêmico. Com qualidades fascinantes como a possibilidade de animar realisticamente objetos rabiscados pelo utilizador, que podia criar desde objetos simples, como bolas e tábuas, até itens mais sofisticados, com veículos e catapultas, a ferramenta se destacava das demais soluções pela surpreendente capacidade de não limitar os tipos de ilustrações que poderiam ser empregadas em uma apresentação.
Apesar de toda essa popularidade, o software gratuito, muitas vezes referenciado como Magic Paper e que foi desenvolvido pela Microsoft em parceria com o MIT, apresentava um desagradável empecilho aos usuários de PCs que estavam interessados em testar a nova tecnologia: como ele era somente compatível com o Tablet PC, não havia uma versão que rodasse nativamente no XP. Essa deficiência, no entanto, foi rapidamente sanada graças à publicação do seu código-fonte, possibilitando que entusiastas o recompilassem para rodar na plataforma.
Colocá-lo para funcionar, por outro lado, nem sempre era uma tarefa simples, resultando em algumas dificuldades que impediam que o mesmo fosse testado em toda a sua plenitude (leia o guia disponível nesse endereço para obter dicas e instruções sobre como fazê-lo funcionar).
Mas o melhor ainda estava por vir. Com o conceito devidamente amadurecido e aperfeiçoado, os desenvolvedores independentes de games viram nessa nova mecânica a oportunidade que faltava para criar novos e empolgantes quebra-cabeças que dependiam da habilidade do jogador de desenhar criativas “engenhocas” para solucionar os mais variados enigmas envolvendo as leis básicas da física. O aclamado Crayon Physics, protótipo criado em menos de uma semana por Petri Purho e que até hoje serve como fonte de inspiração para os demais títulos, foi um dos pioneiros a demonstrar as possibilidades desse mecanismo.
Usando como cenários singelas páginas de papel, e oferecendo um pequeno conjunto de fases geniais (além da generosa quantidade de estágios extras que podem ser transferidos gratuitamente nesse endereço), o objetivo do jogo é relativamente simples: transportar uma bola até que a mesma entrasse em contato com uma ou mais estrelas.
Os meios de conseguir isso, no entanto, exigiam um aguçado pensamento lógico do jogador, que não podia desconsiderar a força da gravidade e a inércia, entre outros fenômenos da física, como fortes aliados para superar os obstáculos.
Por ser uma versão de testes, o título tinha algumas restrições, como o suporte limitado de figuras geométricas que somente reconhecia linhas, retângulos e círculos. Uma edição aperfeiçoada, intitulada Deluxe e que promete resolver esse problema, já está em desenvolvimento, embora ainda não haja uma previsão para o seu lançamento.
A boa notícia é que, devido ao grande sucesso de Crayon Physics, o que não faltam são alternativas. Em Marker World, criado por Allen Liao, o mesmo conceito foi expandido ao aplicar a conhecida fórmula dos jogos de plataforma.
Guiando uma bola com as teclas A, S e D, para completar os estágios será preciso desenhar rampas, gangorras e tábuas de sustentação para superar os obstáculos e alcançar as estrelas que estão estrategicamente espalhadas. Suportando ilustrações sem nenhuma restrição quanto à forma, e com estágios que se estendem por várias telas, o jogo também se destaca pelo intuitivo editor que facilita criar e distribuir novas fases com extrema simplicidade.
Outra excelente opção é o recém-lançado Chalk Physics. Empregando a consagrada tecnologia PhysX (da Ageia) para conferir um elevado grau de autenticidade à simulação física, e incluindo seis divertidos estágios na modalidade de avaliação, o que mais chama a atenção é o seu prático e versátil editor em tempo real.
Implementando um ambiente eficiente para criar e testar os mais variados tipos de dispositivos, a grande sacada do editor foi a possibilidade de construir os cenários em duas etapas. Na primeira, todos os elementos rabiscados na lousa ficam suspensos, sem sofrer nenhum efeito da força da gravidade. Com isso, é possível definir bases e peças fixas com expressiva facilidade, pregando-as com simples ações de desenhar um ou mais pontos na sua área interna.
Ao ativar a segunda etapa, levando o cursor para a área superior do aplicativo para revelar o menu e clicando no botão Play, todos os elementos passam a ser regidos pela física. Mas com uma importante diferença: a ferramenta de edição ainda pode ser utilizada sem restrições, permitindo que sejam adicionados novos objetos que imediatamente reagirão às condições do cenário e interagirão com os seus atuais objetos. Além disso, ainda é possível especificar a intensidade da força da gravidade, simular os objetos como se eles estivessem submersos em água e até indicar a direção e a força do vento. Ótimo para testar vários tipos de dispositivos nas mais variadas circunstâncias.
Entretanto, por mais divertidos e interessantes que sejam os jogos que empregam o fascinante mecanismo para simular a interação física entre objetos rabiscados livremente, a necessidade de desenhar com alguma precisão poderá afastar aqueles que ainda não se sentem à vontade em usar o mouse para criar ilustrações. Nesse caso, o Pintar Interactive Physics VirtuaLab Mechanics pode ser uma alternativa mais aconselhável.
Com uma interface robusta, porém mais amigável que o Physics Illustrator, o software oferece uma ampla seleção de ferramentas que facilitam a criação de todos os tipos de objetos. Um completo sistema de ajuda online, que demonstra como criar desde cenários mais simples, até a simulação de ambientes sofisticados, também está incluído, e é uma excelente introdução para os que desejam criar apresentações ou simulações de protótipos com uma aparência profissional. Não deixe de experimentá-los!