Amnesia: The Dark Descent
Entre todos os títulos desenvolvidos pelas produtoras independentes dedicados a explorar o terror físico e psicológico vivido por seus protagonistas, poucos conseguiram chegar aos pés do cultuado Penumbra. Desenvolvido pela Frictional Games para demonstrar as possibilidades do seu motor gráfico HPL, e sendo posteriormente lançado comercialmente, a série, que foi dividida em três capítulos, rapidamente ganhou popularidade devido à sua atmosfera densa e claustrofóbica. O segredo do sucesso? Nada mais do que convidar o jogador a mergulhar de cabeça em um pesadelo de arrepiar a medula, lembrando um bom filme de terror ao desafiá-lo a lidar com os frequentes sustos e a resolução de enigmas que exigiam sangue frio e nervos de aço para manter a sobrevivência.
A trilogia, encerrada em 2008, deixou saudades, mas a sua legião de fãs não precisa mais se sentir órfã. A mesma produtora acabou de lançar Amnesia: The Dark Descent, trazendo uma história diferente, mas com o mesmo clima sombrio que não deixa nada a desejar ao legado deixado por Penumbra.
Focada na vida do atormentado Daniel, a jornada tem início com a aguda perda de memória do protagonista. Despertando em um dos cômodos de um misterioso castelo, ele não faz ideia de como chegou lá. Sua única certeza é a angustiante sensação de que a sua vida corre um sério risco, reforçada pelos perturbadores e distantes gritos de lamúria que preenchem o ambiente – e que parecem estar cada vez mais próximos. Essas impressões são reais, ou apenas fruto de uma mente abalada? Como ele poderá se safar desse inexplicável pesadelo?
Mantendo o ritmo contemplativo, porém intenso, de Penumbra, o jogador, a partir de uma perspectiva em primeira pessoa, deverá explorar o local em busca de pistas que o auxiliem a desvendar as causas que o levaram a um local tão sinistro. Porém, procurar a saída em meio aos complexos labirintos formados por salões e quartos, apesar de parecer a solução mais óbvia, requer cuidados especiais. Afinal, por não estar equipado com nenhum tipo de armamento, se deslocar pelos ambientes acaba se tornando um exercício de paciência e cautela, tendo que recorrer a artifícios nada nobres como se esconder quando perseguido, se refugiar em uma sala cuja porta possa ser trancada, e até ganhar tempo lançando objetos presentes em cena para ganhar tempo contra as bizarras criaturas.
Isso mesmo! Bancar o herói ao lidar com ameaças desconhecidas, e que podem até ser frutos da abalada imaginação do personagem, pode trazer consequências graves.
Além disso, Amnesia apresenta uma série de elementos que o afastam da abordagem típica de um jogo convencional. A tradicional busca pela vitória, por exemplo, não tem o mesmo peso dos outros games de sobrevivência. Claro que há o objetivo de se manter vivo nesse pesadelo, mas ele representa apenas um motivo para prolongar a experiência enfrentada por Daniel. O que realmente conta são as sensações proporcionadas pelas situações apresentadas – a ponto dos produtores aconselharem a jogá-lo em um ambiente com pouca (ou nenhuma) iluminação, e usando fones de ouvido para maximizar o clima de terror.
Outras características contribuem para tornar a experiência ainda mais singular. O protagonista, ao ser fatalmente ferido, não precisará percorrer novamente por toda a fase. Ao invés disso, ele retornará ao exato ponto em que foi abatido. Fácil demais? Que nada, há uma pegadinha: a partir desse ponto, algo na dinâmica do jogo será modificado. O que será, o risco que essa mudança representará ao jogador e outras implicações não são claras, e exigem agir com mais cautela. Genial!
E não basta se preocupar com o nível de saúde do personagem, afetado a cada queda ou golpe recebido. Também é preciso lidar com o seu frágil estado mental. Ao ficar muito tempo no escuro, presenciar criaturas bizarras e outros fatores capazes de abalá-lo psicologicamente, Daniel poderá se comportar de maneira imprevisível. Portanto, ao notar que o nível de sanidade está baixo, restaure a sua capacidade mental ao resolver enigmas e superar obstáculos, exercitando as suas habilidades lógicas para evitar armadilhas como alucinações e perdas de consciência.
Quanto à produção, o visual, que marca a estreia do motor gráfico HPL2, não apresenta grandes novidades. Os cenários, propositalmente escuros, cumprem bem o seu papel, e os efeitos visuais se encaixam perfeitamente na proposta do game ao reproduzir as alucinações do personagem. O grande destaque, no entanto, fica para a trilha sonora, que é simplesmente fantástica ao criar um ambiente de suspense e por anunciar os perigos que estão por vir.
Suportando as plataformas Windows, Mac OS X e Linux, e requisitando um processador de 2GHz, 2GB de memória RAM e uma placa de vídeo NVIDIA GeForce 6 ou ATI Radeon HD (ou superiores), uma versão gratuita de avaliação já pode ser obtida no site oficial. Totalmente imperdível!