Enslaved: Odyssey to the West

Enslaved: Odyssey to the West

Livremente inspirado no antigo romance chinês Jornada ao Oeste, publicado originalmente no século XVI, Enslaved: Odyssey to the West pode parecer um tanto paradoxal à primeira vista. Tendo como protagonista o mitológico Rei Macaco, um dos principais personagens da obra e que tem como característica ser um bravo guerreiro armado com um poderoso bastão, o fio condutor da história não está necessariamente relacionado com a evolução espiritual do protagonista enquanto percorre pelos perigos de conduzir um monge à Índia. Trazendo uma trama que aborda um dos temores da sociedade moderna, o que está em xeque é o futuro da Humanidade, que foi reduzida drasticamente e que, agora, se tornou refém do domínio das máquinas, dos sádicos andróides e outras tantas ameaças mecânicas.

Por mais singular que essa mistura possa parecer, colocando em um mesmo pacote as lendas e os princípios da sabedoria oriental com elementos de ficção científica, o resultado acabou se encaixando perfeitamente na proposta de um game de ação. Capaz de inserir o jogador em meio a sequências de tirar o fôlego, para superar os diversos percalços que serão encontrados pela frente, e conseguir vencer as inúmeras provas de fogo, o que realmente conta é o laço de amizade que deve ser progressivamente cultivado entre os dois personagens principais. Com um detalhe: a relação começa de forma extremamente conturbada e carregada de desconfiança.

A história tem como ponto de partida as consequências de uma guerra mundial em um futuro nem tão distante. Resultando no extermínio de grande parte da população, os poucos sobreviventes ou se tornaram escravos, ou estão à mercê dos impiedosos robôs que continuam firmes no cumprimento da sua programação de destruir todos os humanos. Um cenário realmente desolador.

Entre os sobreviventes, estão Monkey, o brutal e destemido protagonista controlado pelo jogador, e Trip, a antagonista especializada em burlar sistemas. Ambos se tornaram escravos, e estão presos no interior de uma grande espaçonave. Seus destinos, no entanto, parecem ser trágicos: gravemente avariada, a nave irá colidir a qualquer instante em uma metrópole. Eles ainda não se conhecem e, nesse ponto, o que vale é o instinto de sobrevivência, levando cada um a tentar de tudo para alcançar a última cápsula de escape que está disponível.

Logo no primeiro capítulo, que tradicionalmente serve apenas para habituar o jogador com os controles em um tutorial interativo, o jogador terá que saber lidar com alguns desafios eletrizantes. Sem muita cerimônia, será preciso aprender a se deslocar pelos cenários, lutar contra as sucessivas ondas de andróides, sincronizar as suas ações respeitando os riscos envolvidos e até percorrer por plataformas vertiginosas – especialmente no exterior da nave em iminente rota de colisão, pulando pelo que sobrou das asas enquanto observa o inevitável choque pelos arranha-céus.

Vencida essa etapa, a história ganha novos contornos com a reunião dos dois personagens. Ainda desconfiada das intenções do guerreiro, e temendo pela sua vida, Trip instala um capacete usado pelos escravos em Monkey. Devido às modificações por ela feitas no aparelho, o herói deverá seguir as suas ordens, protegendo-a a todo custo – se ela for abatida, ele receberá, pelo capacete, uma descarga mortal de energia. E qual a tarefa que o grandalhão deverá desempenhar? Nada menos que conduzi-la até a sua terra natal, que fica a 300 milhas do local em que aterrizaram e que guarda desafios rigorosos.

A partir desse momento, a grife da produtora Ninja Theory, conhecida pelos deslumbrantes cenários e pela tecnologia de captura de movimentos demonstrada em Heavenly Sword, fica ainda mais evidente. Imagens belíssimas, que retratam uma América pós-apocalíptica em tons fortes e repletos de detalhes, saltam aos olhos, assim como o cuidado em reproduzir as expressões faciais e os movimentos dos lábios com perfeição e naturalidade.

As sequências envolvendo os frenéticos combates, com cortes precisos da câmera para intensificar a dramaticidade dos golpes, assim como os fartos efeitos visuais e os modelos de grandes proporções, igualmente chamam a atenção, maximizando a experiência.

Mas o jogo também apresenta alguns deslizes. Não poder assumir o controle de Trip é um deles, principalmente para os que não dispensam partidas cooperativas ou desejam alguma variação na jogabilidade. Os mais habituados com outros grandes títulos de ação poderão estranhar a falta de liberdade para se deslocar por algumas regiões, dando de cara em “muros invisíveis”, assim como a limitada ramificação de golpes que podem ser desenvolvidos ao longo da jornada. Esses aspectos, no entanto, não chegam a ofuscar o título.

Suportando os sistemas Xbox 360 e PlayStation 3, Enslaved não deixa de ser uma boa opção pela sua ação desenfreada e o interessante desenvolvimento da relação entre os dois personagens.

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