Machinarium: arte digital em forma de enigmas
Todos que acompanham de perto a evolução dos games que misturam aventura com a solução de criativos enigmas, certamente já ouviram falar em alguns dos projetos desenvolvidos pela produtora tcheca Amanita Design. Fundada em 2003, e liderada por Jakub Dvorsky, a pequena empresa dedicada ao entretenimento cerebral se tornou conhecida por trazer algumas das mais relevantes pérolas a integrar o gênero apontar-e-clicar, introduzindo um elenco de simpáticos personagens que precisavam superar conflitos rigorosos em universos fantásticos como na aclamada série Samorost e o educacional Questionault, entre outras obras igualmente interessantes.
E a nova aposta da equipe tem tudo para repetir o feito. Conservando o estilo contemplativo que marcou os trabalhos anteriores, assim como a impecável direção de arte e a generosa oferta de instigantes quebra-cabeças, o recém-lançado Machinarium conseguiu superar todas as expectativas que o rondaram ao longo do seu extenso período de três anos de desenvolvimento. O segredo? O incansável investimento em oportunas novidades relacionadas à jogabilidade, destacando-o da maioria dos demais títulos que integram o gênero ao elaborar uma aventura envolvente e intensamente sofisticada para prender a atenção do jogador até o último momento.
Ambientado em um planeta cuidadosamente projetado para atiçar a imaginação, com belos cenários desenhados a mão constituídos por toda uma sorte de bugigangas, o título introduz um simpático robô e a sua complexa jornada de salvar a sua cidade da iminente destruição. Vítima de um plano ardiloso, engendrado por uma perigosa quadrilha que ameaça detonar uma poderosa bomba, o herói, controlado pelo jogador, acaba sendo expulso do local a bordo de um caminhão de lixo. Com o objetivo de retornar ao seu lar, e frustrar as investidas dos malfeitores, ele acaba percebendo que a tarefa não será nada fácil, principalmente ao constatar que até a sua adorável namorada corre um sério perigo.
Apesar de explorar elementos envolventes, como a memória afetiva do protagonista e os seus desdobramentos cômicos, a trama desempenha um papel secundário. Os quebra-cabeças, que levam ao limite a perspicácia, o senso de observação e a capacidade do jogador de exercitar a sua veia criativa, continuam sendo o seu maior trunfo.
A mecânica empregada para solucioná-los, no entanto, segue uma fórmula conhecida. Os itens, que é a matéria-prima para solucionar os enigmas, são colecionados com ações simples, bastando clicar sobre eles. Caso haja a necessidade de combiná-los para cumprir funções específicas, arrastá-los no inventário fará o truque. Manipular dispositivos como interruptores e instalações elétricas para destravar trancas, entre outras tarefas, continuam marcando uma forte presença. Mas há também algumas novidades para tornar a aventura ainda mais instigante.
A mais marcante é que, para evitar que os jogadores mais afoitos tentem solucionar os enigmas clicando aleatoriamente pela tela, só é possível interagir com os objetos que estiverem ao alcance do robô. Avistou um objeto que, aparentemente, pode auxiliar em algum obstáculo? Repousar o cursor sobre ele não irá fornecer nenhuma dica visual, a não ser que o robô esteja suficiente próximo para capturá-lo. Encontrou uma engenhoca instalada próxima do chão? Clicá-la não irá ativá-la: será preciso se deslocar até ela e encolhe-lo para que seus braços alcancem os botões. O mesmo vale para quando há itens em pontos elevados do cenário, em que é preciso esticar o seu corpo para capturar o item desejado.
Determinados enigmas, especialmente os mais exigentes por estarem distribuídos por diversas telas, podem se tornar fontes inesgotáveis de frustração, mas o jogo proporciona alguns auxílios valiosos. Além de não haver a barreira do idioma (todos os diálogos são realizados através de balões que ilustram as situações usando pequenas animações), é possível obter dois tipos de ajuda. A mais comum ativando o ícone em forma de lâmpada, que revela uma dica ilustrada sobre o que deve ser feito, sem entregar a resolução integral.
Quando isso não for suficiente, há ainda o recurso que demonstra, passo a passo, tudo o que é preciso fazer. Essa moleza, por outro lado, tem um custo: para obter o auxílio, é preciso destravar o livro com a solução, participando de um difícil minigame em que uma chave deve ser conduzida sem que se choque com os abundantes obstáculos. Criado para evitar abusos, a dificuldade é elevada, sendo mais saudável quebrar a cabeça do que o teclado…
Com um desafio que equilibra lógica com enigmas cujas soluções requerem o uso constante da criatividade, Machinarium representa um convite irresistível para todos que desejam exercitar os neurônios. Desenvolvido para as plataformas Windows, Mac OS X e Linux, a versão gratuita de avaliação, que corresponde a um décimo da aventura e roda diretamente na janela do navegador, pode ser conferida no site oficial. Imperdível!