Scott Pilgrim vs. The World: um moderno tributo aos jogos do passado

Scott Pilgrim vs. The World: um moderno tributo aos jogos do passado

Apesar da inexplicável falta de interesse das grandes produtoras em trazer para as novas plataformas os outrora populares jogos de pancadaria de rua, gênero imortalizado por clássicos como Double Dragon e Final Fight (entre outros tantos devoradores de fichas nas antigas casas de fliperama), ainda há esperanças para aqueles que têm saudades de distribuir socos e pontapés virtuais contra uma infinidade de maus elementos.

Livremente inspirado nos eventos retratados pelo filme Scott Pilgrim Contra o Mundo, previsto para estrear nos cinemas a partir de 15 de outubro, a Ubisoft acertou na mosca ao criar um tributo dedicado aos jogadores das antigas, usando como protagonista o descolado personagem dos quadrinhos criado por Bryan Lee O’Malley.

Com uma mecânica similar aos mais expressivos clássicos do beat’em up (incluindo ícones da era dos consoles de 8 e 16 bits, como River City Ranson e Streets of Rage), o desafio é curioso: ao invés de resgatar a mocinha das garras de perigosas gangues de sequestradores, um dos mais comuns clichês do gênero, o herói, um jovem contrabaixista perdidamente apaixonado por Ramona Flowers, deverá combater todos os sete ex-namorados da moça para conseguir namorá-la em paz. Fácil? Que nada! Como todos possuem uma legião de amigos determinados a interromper os planos de Pilgrim, a única solução é o enfrentamento físico em uma intensa –e dolorosa―jornada pelos pontos de encontro da juventude no Canadá.

E vale quase tudo para conseguir completar todos os sete estágios: desferir golpes que ficam cada vez mais sofisticados na medida em que o personagem acumula experiência e sobe de nível (similar aos jogos de RPG); usar como arma os variados elementos que estão espalhados pelos cenários, incluindo latas de lixo, garrafas, tacos de basebol e até os próprios inimigos quando estiverem desmaiados; recorrer ao auxílio dos poderes especiais que podem derrubar agrupamentos inteiros de oponentes; coletar as moedas que são deixadas pelos inimigos ao serem abatidos, gastando-as nas lojas e restaurantes para incrementar as habilidades e os níveis de saúde e resistência; e, claro, estudar os movimentos realizados por cada um dos chefões de fase para definir uma estratégia capaz de abatê-los (simplesmente pressionar os botões sem nenhum critério raramente o levará para a vitória).

Percorrer pela cidade em companhia de outros três jogadores, que podem assumir as funções de Ramona, Kim Pine e Stephen Stills (além dos destraváveis Mr. Chau e Nega-Scott), também foi uma excelente sacada. Cada um apresentando um repertório próprio de golpes e truques, essa modalidade incentiva os participantes a orquestrar sua ações nos momentos mais intensos, visando a produzir ataques ainda mais intensos.

A bola fora, nesse caso, é que não há o suporte para as partidas em rede, sendo que todos os quatro devem usar o mesmo console – uma limitação imperdoável ao considerar a vocação dos atuais consoles de promover emocionantes batalhas online.

Tentar descobrir as inúmeras referências ao universo dos games, do cinema e até da música, é outro grande barato. Com citações que vão desde as mais escancaradas referências, como a divertida paródia da mensagem de advertência apresentada nos arcades, até as mais sutis, como o mapa da cidade que relembra a seleção de área de Super Mario Bros., e os estágios bônus com defeitos propositais nos sprites (reproduzindo as falhas que ocorriam nos cartuchos com mal contato), o título certamente trará uma emocionante viagem ao passado a todos os veteranos. Isso, claro, sem alienar os novatos.

A caprichada produção igualmente se destaca. Os gráficos, mesmo sendo bidimensionais, são bem construídos e não deixam de ser modernos, ao contrário dos outros títulos que abusam da simplicidade ao recriar a atmosfera dos jogos antigos. A movimentação dos personagens chama a atenção pela naturalidade, assim como a variedade de temas dos cenários e a excelente trilha sonora, que ficou a cargo da banda Anamanaguchi (especializada em reproduzir músicas no estilo dos consoles de 8 bits).

Contudo, nem tudo é positivo. Tanto no Xbox 360, quanto no PlayStation 3, o jogo apresenta alguns problemas, como congelamentos aleatórios e momentos que beiram o caos quando há quatro jogadores participando simultaneamente. Nada que não possa ser resolvido com uma aguardada atualização.

Resgatando, com rara competência, um dos gêneros mais populares dos fliperamas, Scott Pilgrim vs. The World é uma das grandes surpresas do ano. Não deixe de experimentar a versão de demonstração, que já está disponível para ambas as plataformas nas suas respectivas redes de distribuição de conteúdo.