Singularity: resolva rigorosos conflitos manipulando a ação do tempo
Sonho de consumo de dez em cada dez aficionados por histórias de ficção científica, o poder de manipular a ação do tempo tem se tornado um recurso cada vez mais recorrente no universo dos games. E não apenas nos títulos dedicados exclusivamente ao tema.
Na obra-prima Braid, por exemplo, essa habilidade foi empregada para resolver intrincados enigmas temporais na tentativa de reconquistar a namorada do protagonista. Na moderna revitalização de Prince of Persia, é possível viajar no tempo e até reconstruir estruturas danificadas para permitir o avanço do herói, entre outras tantas funções.
Isso sem contar com os seus usos mais tradicionais, como adiantar ou retardar o fluxo da ação em jogos como Time Shift, permitindo, entre outras estripulias, o desvio de uma enxurrada de balas e até surpreender os adversários com aparições repentinas. Só para citar alguns dos exemplos mais marcantes que surgiram recentemente.
E mais um título dedicado a incorporar essas interessantes possibilidades na sua jogabilidade acaba de ser lançado. Desenvolvido pela veterana Raven Software, Singularity registra mais um esforço da produtora de criar uma série própria, transportando o jogador para uma envolvente aventura que alterna os eventos ocorridos no início da Guerra Fria com os tempos atuais. O pivô do conflito? Nada mais do que as fictícias consequências de um desastrado experimento nuclear realizado, sem muito critério, pela União Soviética nos anos 1950s.
Tudo tem início com a descoberta pelos russos de uma fonte capaz de gerar o altamente radioativo Elemento-99. Iniciando uma série de experimentos na remota ilha de Katorga-12, a tentativa de extrair a sua impressionante capacidade de produzir energia, e gerar armas extremamente poderosas, acabou resultando em um efeito colateral catastrófico: os habitantes da ilha, ao serem expostos aos elevados níveis de radiação, passaram a sofrer mutações bizarras. A fauna e a flora também foram severamente afetadas. Diante do caos, e sem ter condições de revertê-lo, os soviéticos fazem de tudo para encobrir a irresponsabilidade, removendo, sumariamente, a ilha do mapa.
Voltamos para os tempos atuais. Após ter um dos seus satélites espiões danificado devido à uma repentina descarga de energia nuclear vinda da ilha, o governo dos EUA envia uma tropa de soldados para investigar o local. Logo antes da aterrissagem, no entanto, o helicóptero usado para o transporte é atingido por uma nova onda energética, gerando um desastre. Nathaniel Renko, membro da Black Ops e personagem conduzido pelo jogador, e o Capitão James Devlin, o seu melhor amigo, são os únicos sobreviventes. Mas por quanto tempo?
Apresentando uma abordagem que relembra o clima sombrio e tenso de BioShock, o título testa o jogador em várias frentes: a habilidade de conseguir superar os numerosos obstáculos propostos pelos cenários, a destreza em dominar o abundante arsenal para combater a fúria das criaturas hostis que habitam o local, a veia investigativa para levantar pistas sobre o que de fato ocorreu na ilha (através de bilhetes e gravações de voz encontrados pelo caminho), a capacidade de neutralizar as investidas de Dr. Nikolai Demichev (cientista responsável pela experiência e que, apesar da falha, insiste em levar os seus planos adiante), e até o sangue frio para lidar com as flutuações na linha do tempo, constantemente transportando-o dos anos 1950 para a atualidade e vice-versa.
Para auxiliá-lo nessa complicada missão, um dos maiores aliados é o artefacto conhecido como TMD. Capaz de alterar a ação do tempo usando a energia proporcionada pelo E-99, a partir desse ponto, a ação se desdobra, basicamente, em duas abordagens. A primeira sendo a resolução de quebra-cabeças, usando o aparelho para transformar portas de ferro em ruínas de ferrugem (permitindo o avanço), destruir objetos volumosos para favorecer o transporte (regenerando-os ao chegar ao destino, se for preciso) e até reconstruir estruturas como escadas danificadas, entre outros pequenos desafios que promovem uma apreciada variedade na atuação.
A maior atração, no entanto, é a possibilidade de usar o TMD durante os combates. Graças aos seus poderes, é possível envelhecer os inimigos até que se transformem em pequenas pilhas de cinzas, produzir uma bolha que desacelera os movimentos de todos que estão no seu interior, atormentar soldados ao envelhecê-los e rejuvenescê-los (fazendo com que eles ataquem impiedosamente qualquer inimigo próximo que produza um ruído), e até usá-lo como uma arma gravitacional, entre outras funções. A mais emocionante sendo a reconstrução de grandes estruturas, como embarcações destruídas, que, ao serem regeneradas, permitem que o jogador avance no seu interior – mas por um tempo relativamente curto, pois elas rapidamente começam a se desconstruir. Divertidíssimo.
Contudo, o componente multiplayer, responsável por prolongar a vida útil do game, poderia ter recebido um tratamento mais caprichado. Apenas dois modos foram implementados: Creatures vs. Humans, em que dois times são formados e devem combater entre si como na tradicional modalidade mata-mata; e Extermination, em que um time, controlando as criaturas, precisa evitar que determinados pontos do mapa sejam dominados pelos humanos.
Mesmo sem investir em grandes inovações, Singularity diverte do início ao fim, e está disponível para as plataformas Xbox 360, PlayStation 3 e Windows.